31 outubro, 2009

Fotograma


Man Ray - Fotograma

Uma das formas de fazer fotografia sem a intervenção da máquina fotográfica é o fotograma. Este baseia-se num princípio muito simples: na camâra escura e em cima de uma folha de papel fotográfico, colocamos diversos objectos, tais como tesouras, chaves, clips ect. Seguidamente, acendemos uma luz branca ou ligamos o ampliador por breves momentos, de modo a formarem-se sombras. Após esta exposição, que não deve ser muito demorada, levamos a revelar a folha que serviu se suporte aos diversos objectos e reparamos que estes ficaram registados como silhuetas brancas em fundo escuro, uma vez que a parte do papel fotog´rafico que foi impressionada esta descoberta.

A origem do fotograma remonta as origens da fotografia, ou da foto-química, quando em 1727, o alemão Johan Heinrich Schulze descobriu a sensibilidade dos sais de prata à luz.
Schulze, Professor de Medicina, Arqueologia e Retórica, dedicava grande parte do seu tempo aos experimentos químicos. Em um deles diluiu, por um acaso, acido nítrico, contendo nitrato de prata em uma solução para dissolver giz branco. A surpresa veio quando o lado do sedimento de giz, voltado para a luz começou a escurecer, enquanto o lado voltado para a sombra permanecia branco e inalterado. Prosseguiu essas experiências o suficiente para finalmente concluir que a reação era causada pela luz e não pelo calor, e foi dessa forma que descobriu a sensibilidade dos sais de prata a luz.
Schulze produziu imagens (fotogramas) com fios, letras e desenhos que, colocados em vidros contendo soluções de giz com nitrato de prata, produziram imagens, verificando o aparecimento das formas no negativo. Essa experiência foi pouco divulgada na época e somente em 1802, Thomas Wedwood e Sir Humphry Davy retomaram o trabalho com sais de prata, na produção de imagens para evitar que continuassem a escurecer quando examinadas sob a luz. Em 1839, o inglês Willian Henry Talbot criou a palavra "desenho fotogênico", que consistia em produzir imagens de objetos colocados sobre folhas de papel sensibilizadas com sais de prata. Esses foram os primeiros fotogramas, que ainda se conserva.

Com a evolução das câmaras fotográficas e o aparecimento dos filmes de maior sensibilidade, o "fotograma" perdeu o sua visibilidade. As experiências que descrevemos anteriormente, foram os princípios da acção da luz sobre materiais foto-sensíveis.
Porém o surgimento do fotograma como expressão criativa do processo fotográfico deve-se principalmente a dois fotógrafos de grande importância na arte e estética moderna, entre 1920 e 1930. São eles Man Ray e Laszlo Maholy-Naqy, que redescobriram o fotograma por acidente, tal como acontecera a Schulze. Curiosamente, os dois começaram a trabalhar com o processo na mesma época, mas isoladamente, sem tomarem conhecimento do trabalho do outro.
A descoberta acidental deu-se quando uma folha de papel fotográfico não exposta à luz foi esquecida às químicas de processamento. Ao se acender a luz, o papel foi lentamente escurecendo nas regiões expostas à luminosidade, enquanto permanecia mais claro nas áreas onde se projectavam as sombras de banheiras, pinças e vidros. A imagem formada foi o inicio de um vasto trabalho, em que ambos se empenharam em sérias pesquisas na exploração do potencial desse meio de expressão.

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